Início » Galbs Games aposta em temáticas brasileiras para criar jogos de tabuleiro

Galbs Games aposta em temáticas brasileiras para criar jogos de tabuleiro

Editora fundada em 2019 lançou jogos inspirados nos povos indígenas e em biomas brasileiros

Felipe Galery e Gabriel Santana juntaram ambições e esforços para criar a Galbs em 2019 (Foto: Divulgação)

Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br

Eles até mudaram de nome nos últimos anos, como se a escrita em inglês desse mais peso: board games. Mas, se os jogos de tabuleiro são uma paixão nacional, com 685 lançamentos no país em 2022, nada mais justo do que criar conexão com a nossa cultura. Nasceu com esse objetivo, em 2019, a Galbs Games, editora focada em jogos com temática brasileira. Entre as produções, jogos que abordam raízes indígenas, belezas naturais e a problemática da mineração.

A Galbs surgiu do desejo mútuo de Felipe Galery e Gabriel Santana em ter liberdade criativa total para a produção de jogos de tabuleiro e de cartas. Na época, Felipe já produzia os próprios jogos e Gabriel surgiu com ideias para um novo projeto. Os dois resolveram, então, unir os esforços na mesma editora independente. Ainda que conte de forma fixa apenas com os dois, mais de 10 artistas já passaram pelo estúdio, exatamente pelo objetivo de dar diversidade à produção.

Marãcá é um jogo de cartas inspirado nos povos indígenas brasileiros e no folclore nacional (Foto: Reprodução)

Como diferencial, a Galbs apostou na fusão da diversão com as críticas sociais, abordando nos jogos questões reais e dialogando com o mundo à volta. “Nós moramos no Brasil e é isso que a gente vive todos os dias, foi quase que natural esse caminho. Já temos muitos jogos de fantasia medieval, piratas e zumbis. Nada contra, gosto muito desses temas também, mas não queríamos fazer mais do mesmo, e sim falar mais da nossa cultura”, comenta Felipe. 

Um dos exemplos é Marãná, jogo de cartas inspirado nas culturas dos povos indígenas brasileiros. Nele, o jogador controla um dos três povos disponíveis, Yatapi, Camiaras e Jacarungos, em uma batalha onde a estratégia é fundamental. Também fazem parte do catálogo jogos como Vela, com uma perspectiva crítica à mineração e às quedas de barragens em Brumadinho e Mariana, e Lençóis, cujo cenário é o bioma de Piauí e do Maranhão.

Após o lançamento de Marãná, a Galbs realizou live com o artista Aredze do povo Xucuru (Foto: Reprodução)

Nos três anos de estrada até aqui, a Galps Games percebeu que a recepção do brasileiro aos jogos com temática nacional divide o público em dois: pessoas ávidas por esse tipo de conteúdo e pessoas que ainda nutrem preconceito. “No meio do caminho está a maioria das pessoas: não ligam tanto assim para a temática, só querem um jogo divertido e bem feito. E ‘só’ isso tudo que tentamos entregar: jogos críticos e bem feitos, tanto em questão de mecânicas quanto de materiais físicos”, refleta Felipe.

De forma geral, a dupla entende ter sido bem recebida. Uma agradável surpresa, conta o artista, foi a procura de professores do ensino básico pelo material. “Já recebemos diversas críticas, principalmente sobre essas temáticas não serem rentáveis. O caminho de produção independente não é fácil, mas encontramos bem mais amigos do que pessoas que tentaram atrapalhar.”

Inspirado nos biomas do Piauí e do Maranhão, Lençóis é um minucioso jogo leve e rápido (Foto: Reprodução)

As amizades formadas nessa estrada ajudaram a superar os obstáculos comuns a quem produz arte de forma independente. O principal deles, elege Felipe, a necessidade de lidar com todas as frentes de trabalho: concepção, produção, marketing, vendas. “No início tudo era desafio, fomos descobrindo as coisas na marra. Aprender onde e como produzir, balancear o desenvolvimento com preço, componentes, arte. Saber quanto e o que tirar para tornar o projeto viável. E ver nossos jogos nascerem e ganharem o mundo é uma sensação sem igual. Hoje é comum escutar coisas como ‘ah, você tem os jogos da Galbs? Adoro os jogos deles.’ E eu orgulhosamente respondo ‘bom, eu que fiz quase todos eles, junto do Gabs’.”

Para 2023, está nos planos dar continuidade ao projeto de Marãná, com expansões e adaptação para uma história em quadrinhos. Para isso, e também para relançar jogos que hoje se encontram esgotados, a Galbs busca parcerias com outras editoras independentes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *