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Catálogo HQ Brasil ganha novo idioma e amplia alcance do quadrinho nacional

  • Literatura

Lançado inicialmente em francês e inglês, material está disponível agora também em espanhol

Material reúne toda a diversidade do quadrinho brasileiro em novos idiomas (Foto: Reprodução)

Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br

A identidade do quadrinho brasileiro ganhou mais terreno em dezembro do ano passado. Já lançado em francês e inglês, o Catálogo HQ Brasil está disponível, agora, também em espanhol. Com tradução de Cecília Arbolave e curadoria de Érico Assis e da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, o material é uma coletânea do que de melhor foi produzido no cenário nacional entre os anos de 2010 e 2019. Clique aqui para acessá-lo gratuitamente.

O projeto é de uma das ações do programa Brasil em Quadrinhos, do Ministério das Relações Exteriores. Além do catálogo, também foram criadas gibitecas, com 50 títulos, nas unidades do Instituto Guimarães Rosa (IGR), rede de centros culturais mantida pelo Itamaraty para ensino da língua portuguesa (na variante brasileira) e da cultura brasileira no exterior.

O programa Brasil em Quadrinhos desenvolveu ainda 6 exposições, participou de duas co-produções – “Pedro e o Imperador”, entre Brasil e Portugal, e “Eu e o Isolamento”, entre Brasil e Líbano  -, e promoveu a participação de artistas brasileiros em festivais realizados  em Amadora, Beja, Montreal, Bruxelas, Lima, Lyon e, mais recentemente, em Angolema.

Amplitude

A primeira edição do catálogo foi lançada em 2020, bilíngue em francês e inglês. A compilação das 100 HQs que representam o Brasil no material respondeu a diversos critérios, explica o curador, Érico Assis. “O primeiro foi o recorte de dez anos e o segundo foi de não repetir autores – cada um ou cada uma está representado por uma obra só (a não ser quando participam de projetos com outros autores). A partir daí, tentamos fazer o possível para que a seleção refletisse a maior variedade possível de temáticas, de estilos artísticos, de gêneros sexuais e de regiões do país.”

O resultado é uma coletânea que preza pela diversidade artística, característica principal do quadrinho brasileiro da última década. Estão ali presentes, como que conversando, Achados e Perdidos, conflito existencial laçado por Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho, Angola Janga, abordagem histórica do Quilombo dos Palmares de Marcelo D’Saleste, e Cara-Unicórnio, sátira de super-heróis assinada por Adri A.

Contraste

Na visão do curador, a evolução mais sensível no quadrinho brasileiro dentro do período abrangido pela coletânea é a chegada definitiva das autoras. Um movimento que deu diversidade, aprofundamento e qualidade ao cenário nacional. “O mercado de quadrinhos mundial sempre foi um Clube do Bolinha com pouco espaço para vozes femininas. A coisa começou a mudar recentemente em âmbito mundial e o reflexo finalmente chegou no Brasil. É um processo que ainda está acontecendo e não existe paridade entre autores homens e autores mulheres – mas o que se tinha antes era a mulher que fazia quadrinhos como exceção. Não é mais o caso.”

Entre as artistas brasileiras que contribuíram para este movimento, Érico destaca Fefê Torquato (Gata garota), Amanda Miranda (Hibernáculo), Bianca Pinheiro (Alho poró), Jéssica Groke (Me leve quando sair) e Ilustralu (Arlindo).

Os próximos 10 anos

Érico Assis diz não fazer metrologia, mas aposta na diversidade para um cenário dos quadrinhos brasileiros ainda mais potente. “Do ponto de vista da criação de quadrinhos, traz perspectivas diversas, muitas que ainda nem se conhece – e naquela velha máxima da literatura de que o autor deve expressar sua maior verdade. Uma coisa que eu li recentemente e que tem a ver com este assunto é em como os artistas deviam saber mais de fora do seu mundo. Foi uma coisa que li de um cientista, Edward Wilson, um cara das ciências biológicas: ele disse que a imaginação das ciências mais ‘duras’ precisa se misturar com a imaginação das ciências humanas, que os campos estão muito fechados em si. Então, acho que é uma coisa que eu gostaria de ver: autores e autoras se interessando e se aprofundando mais naquilo a que não estão acostumados, e que isso faça eles descobrirem outras verdades e expressarem outras verdades no que criam.”

Entre os possíveis resultados já do lançamento da coletânea está a premiação de Escuta, formosa Márcia, de Marcello Quintanilla, na edição de 2022 do Festival d’Angoulême, um dos mais importantes do cenário internacional. O quadrinho venceu o equivalente a álbum do ano.

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