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Coletânea de histórias em quadrinhos sobre masculinidade tóxica inicia financiamento coletivo

Projeto recebeu mais de 300 relatos, dos quais 11 serão ilustrados por artistas de todo o Brasil

As editoras e quadrinistas Bebel Abreu, Carol Ito e Helô D’Ângelo lançaram, na última semana, o financiamento coletivo para a coletânea de histórias em quadrinhos Boy Dodói – histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica. O livro, com previsão de lançamento para setembro, na Bienal de Quadrinhos de Curitiba, conta com 11 relatos reais que convidam o leitor à reflexão sobre comportamentos machistas – sobretudo nas relações afetivas. O lançamento é da Bebel Books.

Clique aqui para conferir o financiamento coletivo, que vai até 6 de agosto

Para criar o livro, o trio abriu uma chamada para que mulheres e pessoas não binárias brasileiras mandassem as próprias vivências com “boys dodóis”. Ao todo, foram recebidos mais de 300 relatos. Os 11 selecionados serão ilustrados por artistas também espalhadas por diferentes partes do País.

O que é o “boy dodói”?

Helô, Bebel e Carol explicam que o homem criticado nas histórias é aquele criado “de forma doente pelo patriarcado.” Ele reproduz atitudes de irresponsabilidade afetiva, falta de honestidade, manipulação, egocentrismo, “ausência de noções básicas sobre como estar em uma relação sem ser um grande machista”, entre outros comportamentos que resultam em sofrimento àquelas com quem se relaciona.

Porém, com o objetivo de manter a leveza, o projeto não conta com episódios que explorem transtornos psiquiátricos. Também ficaram de fora histórias que envolvessem violência física e casos de violência psicológica mais extremos.

Entrevista

O Cidade Invisível enviou três perguntas paras as editoras. Cada uma respondeu uma questão:

Cidade Invisível: O que vocês tiraram de conclusão após lerem as histórias adaptadas no livro?

Helô D’Ângelo: A primeira conclusão, mais triste, foi o quanto essas histórias são comuns. Elas não são a exceção, são a norma. Foi louco ler as histórias e achar que já havíamos ouvido aquele causo de alguma amiga, mesmo as mais bizarras. Isso nos fez entender o quanto a masculinidade tóxica na verdade está enraizada, ainda, na nossa sociedade. Mas também concluímos algo bom: que, justamente pelo fato de essas vivências serem comuns, podemos nos unir. Nesse sentido, “Boy dodói” ganhou para nós uma importância maior ainda: se tornou um espaço de acolhimento, leveza e afeto entre as vítimas desses “Boys dodóis”. É um espaço de riso e choro compartilhado, no qual podemos finalmente olhar para a cara da outra pessoa e dizer “eu também passei por isso”. Esse tipo de coisa é potente, poderosa demais, e é isso que faz mudar as coisas (esperamos).

Cidade Invisível: Qual a importância de registrar essas histórias com leveza, ironia e arte?
Bebel Abreu: Nós entendemos que o humor e a ironia são ferramentas potentíssimas de comunicação e engajamento. O ativismo ‘pé no peito’ é uma maneira muito legítima – e por vezes necessária! – de manifestação, mas a gente também acredita que pra passar uma mensagem ou começar uma conversa é possível abordar os assuntos de maneira divertida. E os quadrinhos – com sua soma de arte e texto – alcançam lugares interessantíssimos na mente humana. Além do que, a gente tá tão cansada de alguns comportamentos masculinos repetitivos que propõe uma reflexão como ponto de partida pra uma melhoria de atitude, no melhor estilo: não tá entendendo? quer que eu desenhe?

Cidade Invisível: Quais os reflexos mais latentes do patriarcado dentro do mercado dos quadrinhos?
Carol Ito: Depois de muitas reivindicações e resistência, hoje dá para ver que as mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ compõem metade de cridores(as) de quadrinhos no Brasil. Basta ir a um evento de quadrinhos autorais para perceber isso. Mas, infelizmente, ainda não existe igualdade de gênero quando se trata de premiações, grandes eventos, cartunistas na imprensa e catálogos de editoras. Ainda existem muitos desafios para que uma mulher consiga se consolidar no mercado e a barreira do machismo é uma delas, pois não há falta de talento.

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