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Bits em Chamas bota músicas para brincar com outras linguagens

Duo gaúcho promove novas canções através de diálogos com programação, audiovisual e universo dos games

Clipe de Ela quer tudo está disponível no Youtube (Foto: Reprodução)

Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br

A música tem facilidade na hora de fazer novos amigos. Cinema, gastronomia, teatro, é difícil encontrar quem não brinque bem boas canções. No caso da dupla Bits em Chamas, formada pelos músicos Vini Albernaz e Alércio Pereira Júnior (Apj), a ligação tem se dado através de games, programação, engenharia. Ao lançar os clipes dos novos singles Ela quer tudo e Frágil equilíbrio, que farão parte de um futuro EP, eles divulgaram também C A V E G A M E, jogo inspirado em Cave, outra composição também de 2021. As músicas podem ser ouvidas nas plataformas digitais e a versão inicial do jogo, para mobile, pode ser acessada no site do projeto. 

Vini e Apj são conhecidos em Pelotas e no Rio Grande do Sul como um todo por bandas como a Canastra Suja e, mais recentemente, a Musa Híbrida. A vida aconteceu e os dois, que além de parceiros musicais são grandes amigos, passaram a morar em cidades diferentes – o primeiro em Novo Hamburgo (RS), o segundo em São Paulo. Nesse sentido, foi necessário criar um projeto que possibilitasse a sequência da tabelinha à distância.

Parceiros musicais de longa data, Vini (E) e Apj (D) tiveram de adaptar a tabelinha quando passaram a morar em cidades diferentes (Foto: Divulgação)

A Bits em Chamas surgiu dentro deste contexto em 2019, meio que na vanguarda do trabalho remoto, um mandando a parte que lhe cabia virtualmente ao outro, e assim nasceu o EP 2050, em 2019, com três faixas: Húmus, Tá em chamas e Madeira mentira. Ao Cidade Invisível, Vini conta que o BeC veio como um contraponto à intensidade da Musa Híbrida – uma experiência leve em contraste com a seriedade de uma banda que fazia turnês, planejava discos e invariavelmente tinha momentos maravilhosos e desafios espinhosos.

O resultado foi positivo, porém, e a dupla decidiu seguir em frente, lançando diversos singles durante a pandemia e planejando um EP seguinte, 2020, que será lançado junto a um curta-metragem de animação. Hello, world e Cave já estavam na rua, Ela quer tudo e Frágil equilíbrio vêm nessa esteira e mais músicas surgirão em breve, dentro do objetivo de lançar o trabalho ainda em 2021, no máximo no início de 2022. Parcerias com artistas como Zudizilla, Thays Prado e a eterna parceira de Musa Híbrida, Cuqui, estão previstas. “Estamos pensando talvez em uma ida minha ao sul, para pelo menos gravar uma session, talvez realizar alguns shows”, adianta Vini. 

Na sonoridade, as quatro canções lançadas em 2021 seguem a linha de 2050 e que já é característica dos trabalhos de Apj e Vini desde os tempos de Musa, talvez desde os últimos tempos de Canastra Suja: a música eletrônica como base, até por conta da distância, mas os instrumentos orgânicos e pegada brasileira como alma – o baixo que introduz Ela quer tudo, deixa bem claro. A música, descreve o duo, tem como inspiração o filme homônimo de Spike Lee e a liberdade da protagonista, Nola Darling, é descrita nos versos. “Uma harmonia já bem mais ‘comum’, bem mais redonda, mais harmônica/melódica. Quase brega. Numa onda meio Caetano, naqueles momentos bregas”, descreve Apj. “A estrutura original partiu da composição e foi mais “acompanhando” a partir de um beat. Com essa pegada meio Brasil, meio sambinha, meio Jorge Ben. Com menos pegada de música gringa, de música pop gringa'”, complementa Vini.

Frágil equilíbrio foi pensada como trilha sonora para o curta-metragem. Uma transição entre cenas que acabou encaixando no EP. “Chegamos a pensar em fazer uma versão mais longa, com outros elementos, pra streaming, mas acabamos nos convencendo que essa versão assim dessa maneira fazia sentido dentro do EP também”, prossegue Vini.

Jogo

Dentro do processo para 2020, a Bits em Chamas passou a vender camisetas, ecobags, cadernos, flipbooks e outras criações inspiradas em Cave, que é música e é também game criado pela dupla em meio às lives que Apj realiza na Twitch. “Primeiro veio o clipe. Que tinha uma cena do jogo. Depois veio o jogo. Depois veio a história do jogo. É um jogo simples, meio que pra ser ‘promocional’ do som”, conta ele. 

No início, de acordo com feedbacks que foram chegando principalmente de Gafanha, faltava algo de narrativa. Apj então foi atrás de criar história, dar vida aos objetos que se mexiam na tela. “Pensei nessa personagem que pilota a C A V E (passamos a chamar a navezinha triangular preta de Cave, pensando em um futuro talvez ter outras fases, com outras músicas). E a história é que essa personagem tava de boas dando um rolê numa galáxia bizarra quando é atacada por essas criaturas girantes geométricas. E aí o jogo é o tempo do som que essa personagem tá ouvindo na C A V E, até que, se tudo der certo, consegue escapar. Aí na cena da ‘vitória’ aparece o planeta Terra ao fundo’, explica o músico.

A escolha de um jogo para impulsionar a música não é acaso, diga-se. Apj cursou cadeira de lógica da programação no IFSul e faz curso técnico de Mecatrônica – ramo da engenharia voltado a projetar sistemas eletromecânicos automatizados, controlados por computador. Parece algo distante da arte, mas ele explica como funcionou. “Eu meio que me apaixonei por programação. Eu adoro texto, adoro escrever. E era uma nova linguagem, uma nova forma de escrever, de pensar, de raciocinar, que me deixava muito feliz com toda potência e possibilidades. A partir daí eu fui me dando conta que jogos eram feitos baseado em lógica de programação. E eu comecei a estudar especificamente, por conta, a feitura de jogos digitais. Comprei um curso que era tipo um guia básico e completo de como fazer jogos 2D na Unity. A Unity é uma engine muito completa e gratuita pra se usar, se o teu faturamento é abaixo dos cem mil dólares por ano ou algo assim. O que é bem massa, porque né, pra tu realmente ganhar dinheiro com isso, sei lá, tem que vingar muito o jogo. Enfim. Daí eu ia estudando, fazendo esse curso, e a cada etapa, a cada jogo diferente que eu fazia, eu usava coisas da Bits como temática do jogo”, conta, deixando aberta a possibilidade de as tardes jogando Sonic Wings, com 10 ou 12 anos anos, terem interferido na criação.