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Paulinho Boca de Cantor defende a cultura que transforma em novo disco

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Músico lança Além da boca e fala ao Cidade Invisível sobre música, arte e momento atual do Brasil em entrevista exclusiva

Músico lança disco recheado de participações especiais, amor pela vida e resposta à escuridão nacional (Foto: Paola Alfamor/Divulgação)

Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br

Tem mais de 6 milhões de visualizações no Youtube o vídeo, extraído do documentário Novos Baianos Futebol Clube, em que Paulinho Boca de Cantor canta com a maior gentileza do universo a deliciosa canção Mistério do Planeta. A música é das melhores já produzidas no Brasil, a letra que faz ode à existência desapegada do material, o violão de Moraes Moreira, o solo definitivo de Pepeu. Mas é a interpretação do vocalista que a faz tão poderosa, a eleva para a eternidade. Paulinho segue o mesmo daquele 1973, um dos períodos mais sangrentos da Ditadura Militar. Leva com leveza e força a música e o Brasil e segue atuante. Recentemente o músico lançou Além da Boca, disco que é a sua cara e conta com participações de antigos e novos baianos da música brasileira. Com muito prazer, o Cidade Invisível entrevistou o artista sobre o trabalho, já disponível em todas as plataformas digitais.

Além da boca traz Paulinho em forma e com muita fome para continuar produzindo – ainda que com parcerias, o disco é assinado por ele do início ao fim. São onze faixas que misturam ritmos que consagraram a carreira do músico, mas que também o desafiam. Colocá-lo nessa prazerosa posição desconfortável foi ideia de Betão Aguiar, filho e maior entusiasta do trabalho do artista. “Ele trouxe essa galera jovem para participar do álbum e foi o que deu esse frescor, essa aproximação com novas linguagens musicais e a alegria que norteia todo Além da Boca.”, comenta o novo baiano.

Desafios

Entre as participações estão Anelis Assumpção (em Eu vou deixar essa canção no ar), Zeca Baleiro (em Ah! Eugênio!) e Tim Bernardes (Ligeiro demais). São eles os convidados de Boca de Cantor nessa grande festa que o disco produz. O clima, ele afirma, é resultado exatamente dessas conversas. “São artistas e músicos jovens e outros não tão jovens que admiro e que sempre tive por perto. O maior prazer é justamente essa amizade e esse carinho que nos envolve e que deixa tudo muito fácil quando estamos juntos no estúdio e na vida.” 

Sentir que quem canta não é ele e sim a alma “e assim atingir a alma das pessoas através do meu canto. Cantar e viver para cantar.” Essa é a missão que Boca de Cantor cumpre, com o objetivo pessoal de levar a vida com leveza e o objetivo humano de transformar a alegria particular em alegria coletiva. ” Esse é o segredo de continuar cantando alegrar a nossa  vida e a vida de todos que ouvem nosso canto e vivenciam nosso prazer de criar e passar coisas boas. “

Apesar de se desafiar, e gostar de se desafiar, Boca de Cantor faz questão de ser o mesmo lá dos anos 70, desprendido e preocupado, feliz e preparado para qualquer combate. “Novos Baianos foi uma escola de arte e de vida que nos acompanha em todos os momentos. E além daquele Paulinho tem o Paulinho do Além da boca, se reinventando e aberto para tudo que pintar e que possa nos fazer continuar saboreando a vida com arte e alegria.”

Esse gosto de viver não deixa de ser uma resposta do artista à escuridão que toma conta do Brasil na atualidade, com constantes retiradas de direitos e ameaças à democracia. Na opinião do cantor, músicas e artes têm sempre peso político na vida do país, pela denúncia e combate às mazelas nacionais. “No momento então nada melhor que marcarmos terreno defendendo a cultura, a liberdade e a vontade de mudar os destinos do Brasil, nesse momento ameaçador. Fora tudo que ameace e distrate nossa história cultural.”