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Mostra no MAM reforça o valor da arte indígena contemporânea

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Moquém_Surarî traz obras de 34 artistas de diferentes povos até 28 de novembro

Exposição busca valorizar a intelectualidade indígena no Brasil (Foto: Reprodução)

O genocídio indígena ocorre de diversas formas no Brasil – o marco temporal proposto pela bancada ruralista e sustentada pelo Governo Federal a mais recente delas. Uma dessas estratégias é, e sempre foi, o apagamento da cultura e das artes dos povos originários. Olhar para essa história, e refletir sobre o que é feito na atualidade, é o objetivo da mostra coletiva Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea, aberta em setembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). A exposição faz parte da rede de parcerias da 34ª Bienal de São Paulo.

São obras de 34 artistas ddos povos Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Makuxi, Marubo, Pataxó, Patamona, Taurepang, Tapirapé, Tikmũ’ũn_Maxakali, Tukano, Wapichana, Xakriabá, Xirixana e Yanomami. Entre eles estão Ailton Krenak – emblemático líder indígena, escritor e filósofo -, Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé e Yaka Huni Kuin; tecelagens de Bernaldina José Pedro; esculturas de Dalzira Xakriabá e Nei Xakriabá; fotografias de Sueli Maxakali e Arissana Pataxó. “São obras que mostram o que são os regimes visuais indígenas, de existências milenares e dos quais a arte indígena contemporânea é tributária”, explica a programadora cultural, Paula Berbert.

Além da exposição na sede do MAM, a mostra conta com uma série de depoimentos inéditos em vídeo de sete artistas de Roraima. É possível ainda conferir ampla programação educativa com oficinas e lives com artistas sobre assuntos como a arte e o xamanismo, bem como a forma das mulheres na arte indígena.

De acordo com a equipe de curadores, formada por Jaider Esbell, Paula Berbert e Pedro e Niemeyer Cesarino, a mostra apresenta o trabalho de 34 artistas indígenas “que corporificam transformações, traduções visuais de suas cosmologias e narrativas, presentificando a profundidade temporal que fundamenta suas práticas. As obras atestam que o tempo da arte indígena contemporânea não é refém do passado. A ancestralidade é mobilizada no agora, reconfigurando posições enunciativas e relações de poder para produzir outras formas de encontro entre mundos não fundamentadas nos extrativismos coloniais”, dizem em texto de apresentação.

Jaider Esbell é nascido na região demarcada hoje Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O artista é hoje figura central do movimento de consolidação da arte indígena brasileira contemporânea e atua de forma múltipla e interdisciplinar. Além da arte, trabalha também como educador, ativista e catalisador cultural. 

Surarî

Nas tradições do povo Makuxi, Surarî’ foi abandonado no mato por um caçador. Pela saudade Surarî’ virou gente e decidiu subir aos céus atrás de seu dono, subindo às costas de um pequeno gavião. Quando chegou, Surarî’ se transformou novamente, agora em uma estrela. Dessa forma, tornou-se  responsável por trazer as chuvas e lembrar que, depois do tempo da seca, haverá ainda um outro tempo possível, o das águas.

Já a palavra Surarî’, na língua makuxi, designa o moquém, jirau utilizado para desidratar e defumar a carne como forma de facilitar o transporte dos locais de caça e pesca até a aldeia. “É boa para pensar o trânsito de provimentos e de saberes que atravessam não só diferentes espaços, mas também diferentes mundos. São trânsitos como estes que constituem os movimentos da arte indígena contemporânea. A chuva provocada por Surarî’ é uma maneira de conceber os fazeres dos artistas indígenas como veículo entre distintas temporalidades e um modo de produzir e atualizar relações”, reflete a equipe também no texto de apresentação. 

Serviço
Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Curadoria: Jaider Esbell
Assistência de curadoria: Paula Berbert
Consultoria: Pedro Cesarino
Período expositivo: 4 de setembro a 28 de novembro
Endereço: Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Telefone: (11) 5085-1300
Ingresso: Entrada gratuita, com contribuição sugerida. Agendamento prévio necessário.