Rapper gaúcho apresenta aspectos da desigualdade social e discriminação que afetam o brilho e desenvolvimento de artistas
Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br
A insegurança dos manos tem impedido as pérolas da periferia de brilhar. Esse foi o pensamento do rapper Mano Rick, de Pelotas/RS, quando o conterrâneo Fill morreu, em 2019. Uma insegurança que é causada pela desigualdade, a competição e a falta de formas para lidar com a saúde mental nos guetos brasileiros. A reflexão resultou no single Alento, que ele lança agora em parceria com Leh Moraes.
Mano Rick já tem uma década de carreira no rap. A primeira experiência foi em 2008, pelo projeto Meu ambiente é aqui, com 11 anos. Em 2013 lançou Fatos e fatos. A consolidação de fato veio Do Dunas pro Mundo, de 2017, financiado pelo Procultura Pelotas. O título não é acaso: o rapper conquistou outros pontos, mas é um eterno mensageiro do bairro de onde vem. Segue participando de diversos projetos locais, como o Comitê de Desenvolvimento do Loteamento Dunas (CDD), de onde faz parte do conselho gestor e é parceiro desde 2007.
Alento é mais um dos singles que Mano Rick tem lançado em 2021, sempre mostrando a visão da sociedade a partir da perspectiva periférica. Na nova canção, o músico lamenta os reflexos de uma sociedade cada vez mais desigual e, ao mesmo tempo, competitiva. O resultado é a perda do brilho das tantas pérolas que as limitações da periferia apagam. “A desigualdade social junto com a discriminação promove inúmeras barreiras para quem vem da comunidade, e essa realidade herdada da escravidão também é responsável pela geração de barreiras mentais. A gente sabe que o mundo é contra nós e que a nossa luta para alcançar nossos objetivos será sempre mais árdua; mas no momento que deixamos de tentar é que perdemos para a insegurança que essa realidade nos traz”, comenta.
Particularmente em Alento, a inspiração foi a morte do rapper Fill, ocorrida em 2019. O fato chocou o rap local e gerou uma série de reflexões em quem tentava viver da música naquela época. “Quando o perdemos, um grande vazio se instalou na cena. O episódio nos fez prestar a atenção no que pouco notávamos. Começamos a conversar mais uns com os outros, e a procurar saber como nossos amigos estavam. Nós não falávamos muito sobre saúde mental antes disso. O ocorrido com o Fill me fez observar as coisas de modo diferente, e assim pude perceber a quantidade de pessoas ao meu redor que estavam em situações delicadas”, conta.
Na canção, Mano Rick tem a parceria da cantora Leh Moraes, voz conhecida da noite pelotense e a quem o artista rasga elogios. “Além de ter uma voz linda, é uma das pessoas mais alto astral que eu conheço. Ela entende o que eu pretendo passar nas minhas letras, e a gente já vinha há algum tempo querendo fazer algo juntos. Em Alento, no flow, eu trago reflexões e problematizações em cima das situações que nos cercam. O refrão é o “apesar de…” do flow. Ele é a parte que reforça o quão necessário é buscarmos nos entender, com calma e respeitando o nosso próprio tempo.”
Planos
Ao se considerar privilegiado por conseguir continuar atuando na música em meio ao cenário pandêmico, Mano Rick agradece a equipe do selo 4passo, com quem tem trabalhado e adianta que mais um single deve ser lançado em 2021, em parceria com Davi Duarte. Para 2022, outras canções já estão prontas para ir à rua. Outras propostas de conteúdo junto ao selo também devem ser lançadas.