Início » “Música Para Cortar os Pulsos” volta a ser encenada após dez anos

“Música Para Cortar os Pulsos” volta a ser encenada após dez anos

  • Teatro

Em seis apresentações que celebram a trajetória do Empório de Teatro Sortido, canções da peça serão executadas ao vivo

Peça criada e dirigida por Rafael Gomes traz a música como linguagem para contar histórias de amor (Foto: Reprodução)

Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br

A peça Música Para Cortar os Pulsos, da companhia Empório de Teatro Sortido, estreou em São Paulo em 2010. Dez anos se passaram, a música mudou (muito), o teatro não é mais o mesmo e as relações amorosas, então, nem se fala. Sentir não envelhece, porém, e após uma década, o espetáculo retorna aos palcos, sustentado pelo frescor do amor jovem. Serão seis datas gratuitas ao público em São Paulo: de 14 a 16 de janeiro no Teatro Paulo Eiró; de 21 a 23 de janeiro no Teatro Arthur de Azevedo. Nas sextas-feiras e sábados, a apresentação ocorre às 21h. Já aos domingos, às 19h. Os ingressos serão distribuídos uma hora antes do início. 

A reapresentação de Música Para Cortar os Pulsos faz parte da das comemorações dos dez anos da Empório de Teatro Sortido.  A companhia traz de volta os 10 espetáculos do repertório. Cinco serão apresentados e outros cinco passarão por leitura encenada e a programação conta ainda com aula espetáculo de encerramento a partir de um texto inédito de Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, os fundadores do grupo.

A peça, escrita e dirigida por Rafael Gomes, trata com inteligência e criatividade a intensidade das relações amorosas juvenis, tendo a cultura pop como a verdadeira protagonista. Na trama, três histórias de amor são contadas: a de Isabela, que sofre por ter sido abandonada; a de Felipe, que quer muito se apaixonar; e a de seu amigo Ricardo, que está apaixonado por ele. Por falar a língua do público jovem brasileiro, o projeto ganhou o País, se espalhando por 30 cidades durante os três anos em que ficou em cartaz.

Filme Música Para Morrer de Amor monta trilha sonora de relações afetivas |  Viver: Diario de Pernambuco
Peça foi adaptada para o cinema em 2020 (Foto: Divulgação)

Nestes dez anos, Música para cortar os pulsos deu frutos e se transformou em livro, homônimo, e em um filme, rebatizado de Música para morrer de amor, com o mesmo elenco, lançado em 2020 no NewFest – Festival LGBTQIA+ de Nova York. O processo de adaptação está registrado em novo livro, editado pela Editora Incompleta, com notas do diretor, Rafael Gomes. Essa publicação conta ainda com ensaio ficcional assinado por Rafael e prefácio de Vinícius Calderoni, um dos fundadores da Empório de Teatro.

Década de teatro

A peça foi um dos primeiros projetos da Empório de Teatro. Nessa década de existência, as produções visitaram 40 cidades e cinco dos textos encenados foram publicados em forma de livro, além de receberem remontagens por todo o Brasil. Os 5 espetáculos reapresentados são: Música para cortar os pulsos, de Rafael Gomes (de 14 a 16 de janeiro: Teatro Paulo Eiró; de 21 a 23 de janeiro: Teatro Arthur de Azevedo); a partir do dia 27 de janeiro a Mostra passa a ocupar o TUSP, apresentando quatro textos de Vinicius Calderoni: Ãrrã (de 27 de janeiro a 06 de fevereiro, quinta a domingo); Os arqueólogos (de 02 a 23 de fevereiro, quartas feiras); Não nem nada (de 10 a 20 de fevereiro, de quinta a domingo) e Chorume (de 03 a 13 de março, de quinta a domingo). 

As cinco leituras encenadas serão realizadas aos sábados de tarde, durante a ocupação no TUSP, contempla os outro cinco espetáculos encenados pela Empório de Teatro Sortido: Jacqueline, de Rafael Gomes; Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams; Gotas d’água sobre pedras Escaldantes, de Rainer Werner Fassbinder; O convidado surpresa, adaptação de Rafael Gomes para o romance de Gregoire Boilleur e Cambaio [a seco], de Adriana Falcão e João Falcão, com músicas de Chico Buarque e Edu Lobo. 

Confira um bate-papo exclusivo com o diretor de Música para cortr os pulsos, Rafael Gomes:

Cidade Invisível: Música para Cortar os Pulsos nasceu como peça, virou filme e retorna aos palcos para comemorar os 10 anos. O que mudou no conceito e na execução do projeto nesta década?

Rafael Gomes: Nestes últimos 10 anos, eu acho que é possível dizer que a peça envelheceu muito e ao mesmo tempo ficou muito atual! Isso porque, só pra termos um parâmetro, quando o espetáculo estreou o Instagram estava sendo lançado. Ou seja, toda a lógica dos smartphones, da hiperconectividade e da comunicação via redes sociais praticamente não existia como a conhecemos hoje. E isso certamente faz diferença quando se vai falar sobre afetos, relacionamentos e subjetividades jovens. Por outro lado, toda essa saturação das redes e das telas, ainda mais neste momento de enfrentamento de pandemia, acabou nos levando todos de volta ao humano, ao essencial, à busca pelo contato corpo a corpo. Nesse sentido, eu acredito que a peça atravessou muito bem essa década e pode continuar falando aos corações sentimentais de todas as idades. Do ponto de vista interno, as mudanças também refletem essa perspectiva: há alguns atores que amadureceram junto com a peça, fazendo-a há mais de 10 anos (e, portanto, acrescentando camadas sobre aquele mesmo texto) e há outros que chegaram agora e são mais jovens do que éramos quando tudo começou – mais um sinal de que essa dramaturgia pode continuar sendo pertinente.

CI: O consumo e a música como um todo mudaram nestes dez anos. Como manter o frescor juvenil da peça após esse período, dialogando com essa nova geração?

RG: Eu acredito que a peça pode manter seu frescor enquanto os sentimentos permanecerem pulsantes. Ou seja, enquanto houver atores que defendam o texto com entrega e honestidade emocional. Não me preocupa fazer atualizações específicas para jovens de uma nova geração, no sentido musical – nem em tom, nem em repertório. Acho até que é quase o contrário: gostaria que jovens dos anos 2020 fossem assistir ao espetáculo e descobrissem músicas “antigas” que eles nunca ouviram antes.

CI: O que a peça traz de mais interessante na conexão entre o teatro e a música?

RG: Na nova encenação, essa de agora, o fato de que a música está em cena. Sempre esteve no texto, com frases de canções aparecendo como citações nos diálogos. Mas agora as canções que costuram a dramaturgia são interpretadas ao vivo. Isso dá outra palpabilidade à música na cena, dá carne a essa presença da música no teatro.

CI: Para ti, qual a sensação de estar completando dez anos do projeto?

RG: Proximidade e afastamento, ao mesmo tempo. Em alguns aspectos, acho que a peça não reflete mais minhas buscas estéticas e dramatúrgicas. Por outro, será para sempre o primeiro texto que escrevi, pelo qual nutrirei eternamente um carinho enorme. Então é como ver uma foto da juventude: aquele na imagem não é mais quem está olhando, porém nunca deixará de ser.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *