Localizada no Méier, Belle Époque é uma espécie de centro cultural para a região e será recuperada após mais de 300 contribuições
Por Leon Sanguiné – leon@cidadeinvisivel.art.br
Localizada em uma ruela do Méier, no Rio de Janeiro, a livraria Belle Époque viu germinar, desde a abertura em 2018, uma profunda relação com a comunidade local, principalmente com os estudantes do Colégio Estadual Visconde de Cairú, logo à frente do espaço. Tornou-se, aos poucos, uma referência cultural fora da zona sul carioca, mas um incêndio, ocorrido no início de julho, freou os planos. As raízes estavam firmes, porém, e uma série de ações tem auxiliado os proprietários a reativarem o empreendimento.
Para ajudar na recuperação da livraria, muitas pessoas realizaram doações de livros e uma campanha online foi lançada no site Vakinha. Mais de 300 pessoas já contribuíram e o valor arrecadado já se aproxima dos R$ 38 mil, além de contribuições espontâneas, que ainda podem ser feitas através do PIX 21976257600.
Com anos de experiência em iniciativas culturais, Ivan Costa já havia trabalhado em duas livrarias de bairros nobres da cidade quando resolveu abrir a própria. Não teve dúvidas em escolher o Méier como ponto. “É uma região carente de projetos voltados para a cultura. E tem muito trabalho maneiro acontecendo por aqui e que precisa de incentivo”, justifica. Dentro do acervo, estavam livros vendidos a partir de R$ 2.
Com essa ideia de fazer da Belle Époque muito mais do que um comércio, mas um centro cultural, com contribuição à vida das pessoas, Costa viu a livraria ser abraçada de volta pela comunidade. Saraus e lançamentos de discos e livros passaram a ocorrer e, logo antes do incêndio consumir o espaço, a loja abrigava dez mil livros, além de 1,2 mil discos de vinil e 400 CDs.
A ajuda que Ivan vem recebendo, do público diário da Belle Époque e de outras pessoas, é fruto de histórias como a que ele contou ao Cidade Invisível. “Uma menina da escola começou a se interessar por antropologia e sociologia e passou a comprar livros desses assuntos conosco. No fim do ano, me abraçou dizendo que tinha passado na faculdade. Depois a mãe dela me agradeceu muito porque frequentar a livraria a aproximou dos estudos, até passar em antropologia na Universidade Federal Fluminense. Antes havia repetido alguns anos seguidos. Chorei, pois foi muito difícil estar ali. Não é uma rua de movimento, então foi bem difícil manter.”
Ivan calcula três meses até que a Belle Époque reabra as portas para o público. No momento, ele foca em conseguir os laudos necessários para realizar a reforma e recuperar o espaço. A ideia é construir um segundo andar, para eventos culturais, além de um terraço.